quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quanto vale esse sorriso?


Essa menina com esse belo sorriso se chama Ruth Bimbi e tem dez meses.
No sábado à noite fomos chamados pelo hospital porque havia chegado uma menina com dificuldade importante para respirar, depois de um período em que tinha estado rouca. Enquanto falavam comigo ao telefone, podia escutar a menina respirando de forma bem ruidosa, aparentando pelo ruído respiratório uma obstrução das vias respiratórias. Diante da história de rouquidão e com aquela respiração sonora, suspeitei de obstrução da glote ou laringe, e pedi que fizessem adrenalina e corticóide mesmo antes de eu chegar ao hospital. Subi de carro para o hospital bastante desesperado, orando pela menina. Quando cheguei ao hospital, a menina estava com uma insuficiência respiratória grave e com sinais de obstrução das vias aéreas, que não haviam melhorado com as medicações. A mãe relatou que os sintomas haviam iniciado há uns 2 dias, quando estava dando uma sopa com peixe e possivelmente a menina havia “se engasgado” com um espinho de peixe, iniciando a rouquidão. No sábado havia começado a ter dificuldade para respirar, que foi piorando progressivamente, e aí a mãe levou a menina ao hospital.
Enquanto meio desesperadamente tentava qualquer coisa para manter a menina respirando, consegui falar com o cirurgião angolano que dá cobertura na ausência do Dr. Foster, que se dispôs a ir até o hospital, depois de pegar o anestesista de plantão. Depois de uma hora eles chegaram e a menina bravamente “agüentava as pontas”. Levamos a menina para o bloco cirúrgico e com alguma dificuldade fizemos a traqueostomia para que respirasse bem. Depois da pequena cirurgia a “miúda” (como eles dizem por aqui) respirava normalmente e dormiu sossegada. Agora aguarda a chegada do Dr. Foster para que ele possa fazer um exame para ver e retirar o corpo estranho, se ainda estiver lá, e podermos tirar a traqueostomia para ela voltar para casa.
Com essas experiências a gente fica pensando sobre o valor da vida. Que alegria poder ter participado na preservação da vida dessa criança. Que recompensa em ver o seu sorriso (nos primeiros dias ela chorava quando me via hehehe). Fico pensando que valeria a pena ter vindo para Angola só por esse motivo, mas acho que a gente tem mais vidas para ajudar a salvar aqui. Continuem orando por nós e por aqueles diante de quem nos encontramos, às vezes em condições de ajudar e muitas vezes infelizmente não. Que o Senhor continue nos usando aqui como instrumentos do Seu amor e graça.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O que vc fez sábado?





Bom, a vida aqui tem suas compensações. Estamos a mais ou menos umas 2 horas da praia (mineirinhos, morram de inveja hehehe), apesar de que se quisermos uma praia mais isolada, mais "pura", aí leva-se perto de 3 horas. Sábado passado fomos explorar uma praia ainda desconhecida da turma de missionários aqui. E valeu a pena. O caminho era no meio do deserto, no meio de belas estruturas arenosas, esculpidas pela mão do Senhor através do vento e da água (quando esta aparece por aqui). Enfim chegamos. Uma praia linda, na ponta do deserto. Ficamos lá umas 4 horas, curtindo uma gostosa praia e também explorando o local. Para nossa surpresa (nem tanto, porque isso não é tão raro por essas bandas) apareceram umas baleias para nos saudar (baleias mesmo, não estou me referindo pejorativamente a nenhuma mulher gorda; não dá para ver na resolução de foto do blog mas, acreditem, eram baleias mesmo). Fiquei pensando: se estivesse em BH a essa hora estaria talvez assistindo a algum jogo da Série B na Rede TV hehehe, que upgrade! hehehe Foi um tempo muito gostoso e a viagem em si é cheia de paisagens bonitas, apesar de trechos do caminho onde só se passa com um bom 4X4. Estou virando traileiro aqui também. Os meninos estão aprendendo a curtir mais a natureza, se desintoxicando da vida de "Pátio Savassi" aos sábados hehehe.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cinco mulheres!

Estava fazendo uma consulta de uma senhora, e um dos testes para sífilis foi positivo. O esposo estava na sala e iria tratá-lo também. A enfermeira que me acompanhava teve a esperteza de perguntar-lhe quantas mulheres ele tinha para também serem tratadas, pergunta que não passaria pela minha cabeça. Para minha surpresa ele respondeu que tinha cinco mulheres! Eu até ri, e ele riu também. A esposa riu meio sem graça, numa mistura de constrangimento e aquiescência. Meu riso foi meio reflexo, sem pensar na seriedade da questão, só imaginando o absurdo prático da situação.

Olha que o homem não era nenhum líder tribal que vivia no meio do mato aqui. Era funcionário público e tinha um nível de escolaridade razoável. A enfermeira até tentou questioná-lo, perguntando se ele era tão rico assim para sustentar tanta gente. Ele respondeu que as mulheres ajudavam no sustento, e assim dava para sobreviver.

Mesmo sob o risco de ser taxado de etnocêntrico e desrespeitador das culturas alheias, fico pensando na situação da mulher africana, objeto do prazer e da satisfação masculina, se submetendo a uma relação de dominação e uso. Aqui a gente vê também as mulheres trabalhando para sustentar maridos que pouco se esforçam para cuidar de suas famílias. A senhora que trabalha conosco acorda cedo para buscar água para a família para depois vir para nossa casa, enquanto o marido encontra-se desempregado há meses (pediu demissão...) e não tem "forças" para pegar a água para sua casa. A Norinha tem feito seu trabalho "subversivo" na cabeça dela hehehe.

Creio que vai levar muitos anos para a condição da mulher mudar por aqui. Na minha classe de Novo Testamento ensinei na semana passada, no estudo do livro de Efésios, como o marido deve amar sua esposa "como Cristo amou sua igreja", se entregando totalmente por ela. Nós brasileiros, eu inclusive, precisamos aprender isso também.

sábado, 23 de outubro de 2010

Dava para recusar?

Uma noite dessas fui com o David para a academia de ginástica. Estou correndo atrás (metaforicamente e literalmente hehehe), depois de ter ganhado uns 6 kg aqui.
Bem, como é comum aqui, muitas vezes estamos sem luz. Assim, na academia havia gerador mas não do lado de fora. Ao sairmos, no escuro, veio um rapaz com um capuz na cabeça e com uma metralhadora e me pediu carona. Pediu de uma maneira tímida, como se eu pudesse recusar. Na verdade era um guarda e estava querendo ir até o quartel. Obviamente não resisti ao seu pedido, apesar de ele dar toda mostra de que não iria usar o instrumento que estava pendurado ao pescoço.
Na viagem conversamos um pouco.
O pessoal aqui é na maioria das vezes pacato, apesar da abundância de metralhadoras que se vê pelas ruas. Até guardinha de buteco tem uma consigo. No entando, a gente não se sente intimidado nas ruas. A violência urbana é quase que inexistente (muito diferente do que acontece no trânsito aqui; uma LOUCURA).
Realmente em termos de violência a gente não fica com saudade do Brasil, onde a coisa é bem pior. É até difícil de pensar como esse povo se matou e mutilou por cerca de trinta anos. Ainda vai demorar para o país se reconstruir (parece mais demorado do que se devia; acho que a corrupção, a pobreza e falta de instrução da grande maioria são entraves fortes) mas pelo menos a paz nesse sentido reina aqui.
Que a paz de Cristo, a Shalom desejada pelos hebreus, que é muito mais do que ausência de guerra ou conflito, e traz restauração completa individual e coletivamente, reine neste país.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Desabafo!!

Desculpem-me, mas tem dias que preciso desabafar. Hoje foi um desses dias. Essa semana foi bastante difícil, com muitos casos graves, a maioria crianças. O fato é que é muito difícil fazer medicina nas circunstâncias que temos. Os poucos exames que fazemos não são muito confiáveis, e olha que são poucos mesmos. A máquina de ultrassom do hospital, que ajudava um pouco, manobrada por um técnico que tem uma noção básica das imagens abdominais, nos ajudava a explicar um pouco as massas abdominais, a situação do fígado e rins, etc. O problema é que a máquina estava com defeito e foi enviada para o EUA para conserto. Não se sabe quando a teremos de volta. Os medicamentos básicos às vezes os temos às vezes não. Eu digo os básicos. Fica muito difícil fazer uma boa medicina. Até saber quando vc erra fica difícil. O paciente não está respondendo porque o diagnóstico está errado, porque não está respondendo mesmo, porque os medicamentos chineses que conseguimos são de farinha?? Orem por mim, ou melhor, ore pelos pacientes e pelo país, que tem muita dificuldade de reverter uma situação de desordem, desorganização, apatia, etc. Deus tenha misericórdia de nós!!

domingo, 3 de outubro de 2010

Feliz Feliciano


Essa bela criança na foto se chama Feliciano. Está no hospital há mais ou menos duas semanas. Algumas crianças chegam no hospital tão graves que a gente fica pensando que não vão sobreviver, e muitos não sobrevivem, infelizmente. Porém, em alguns casos os pacientes respondem ao tratamento e melhoram, graças a Deus (e aqui a expressão não é apenas maneira de dizer, quer dizer isso mesmo: graças a Deus). Esse foi o caso desse bonito menino. Chegou com uma insuficiência respiratória grave, querendo entrar em coma, e tinha muito líquido na pleura do pulmão. Fizemos a drenagem do líquido e começamos com antibiótico. Houve uma melhora parcial mas havia a suspeita de tuberculose. Começamos então com o tratamento para tuberculose e ele está respondendo bem. Fiquei muito feliz pois pensei que ele não ia aguentar.
Tristemente, tenho testemunhado o falecimento de muitos pacientes, a maioria chegando ao hospital muito grave, e já sem muita condição de ser tratado. Porém, esses casos como o do Feliciano nos renovam as forças e a esperança, fazendo a gente crer mais uma vez que Deus nos colocou aqui por causa desses "pequeninos", para sermos seus instrumentos de vida e salvação.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

20 anos abençoados


No último dia 15 eu e Norinha comemoramos 20 anos de casados!

Não fizemos nada de muito especial; apenas fomos a um restaurante em um hotel aqui, talvez não tendo como valorizar muito a importância da data. Mas, apesar da modéstia da comemoração, me sinto muito feliz por estarmos casados há 20 anos, e podermos nos alegrar por isto com nossos filhos, parentes e amigos.

Num tempo em que as relações estão se tornando cada vez mais descartáveis e "funcionais", e as pessoas não sabem mais o verdadeiro sentido do amor, é bom olhar para trás e ver que esses 20 anos passaram tão rápido, e cheios de tantas alegrias.

Há pouco assistimos um filme que tinha como pano de fundo o sentimento de casais de que haviam entrado em uma rotina, se tornado "irmãos", e o casamento havia perdido a graça. Fico pensando que em 20 anos de casado a última coisa que tenho experimentado é "rotina". Talvez também pelo fato de eu ter seguido uma vida meio "aventureira", com passagens pelo Canadá, África e o desafio de se criar 3 filhos com personalidades e dons diferentes. Creio que só o fato de se ter filhos e o desafio de criá-los da melhor maneira possível já impede qualquer rotina, com todas as surpresas e desafios que a vida sempre nos traz. Mas, além de tudo isto, a relação conjugal é um universo a ser explorado por toda a vida. A cada dia estou conhecendo a Norinha e ela me conhecendo, mesmo porque a gente vai mudando com o tempo (nem sempre para melhor, é verdade hehehe).

Me inspira, além de todos os ricos ensinamentos bíblicos sobre a vida conjugal, uma musiquinha de um conjunto do fim dos anos 70 (obviamente era bem pequenininho na época hehehe), que dizia:
Sim, é como a flor
de água e ar, luz e calor
o amor precisa para viver
de emoção, e de alegria
e tem que regar todo dia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Blog terceirizado hehehe

Caros amigos e "seguidores",

Estamos de volta à bonita Lubango desde a última quarta-feira, 08/09, graças a Deus. Dessa vez ficamos pouco mais de 3 semanas para conseguir os vistos, bem menos que os 35 dias da última vez. Estamos de volta à "ralação", mas felizes com isto. É bom rever os amigos aqui e voltar ao trabalho para o qual viemos aqui, com as suas dificuldades e alegrias.

Quero indicar o blog dos amigos que estão nos visitando esses dias, Eugênio e Carol, onde há muitas fotos da vida e dos lugares aqui: www.petraconi.me .

Depois escrevo contando mais notícias.

Du

domingo, 5 de setembro de 2010

Teresa Kayuva e a saudade do SUS


Essa paciente, com esse sorriso bonito, se chama Teresa Kayuva. Ela é diabética e veio ao hospital para tratar de uma infecção na perna. Encontro com ela quase todos os dias no hospital, quando ela vem para trocar os curativos, o que para mim faz uma mistura de sentimentos. Fico alegre em ver seu sorriso bonito e resignado, diante do quadro que se arrasta já há muito tempo, reconhecendo no seu sorriso também o sentimento de gratidão por ser bem tratada lá. Por outro lado, ela mora numa vila distante, sem recursos médicos ou estrutura sanitária razoável (atualmente se encontra na vila feita perto do hospital, para hospedar aqueles que precisam prolongar o tratamento, sem precisar voltarem para suas vilas ou cidades de origem). Mesmo se conseguirmos sucesso em cicatrizar sua ferida, sua diabetes não tem sido controlada com os medicamentos orais (que já são difíceis de se comprar no país) e ela precisa de insulina. Aí, é uma realidade muito distante da paciente. Conseguir a insulina, conservar adequadamente, se possível em geladeira, que ela não tem. Não há sequer energia elétrica onde mora. O Dr. Collins, médico angolano-canadense que se especializou em cirurgia de cataratas para viajar pelo país devolvendo a vista aos que ficaram cegos em decorrência da catarata, me disse algo que me chocou: “Dar o diagnóstico de diabetes aqui é como assinar o atestado de óbito. Não há como tratar na maioria das vezes.” Os pacientes logo morrem em decorrência das muitas complicações da diabetes. Para vocês terem uma idéia, a hemodiálise só existe na capital, mesmo assim poucas máquinas de diálise que atendem a pouquíssimos pacientes. Aí a gente pensa como expressou a Norinha: “Aqui a gente fica com saudade do SUS.” É triste, mas é verdade. Nós, que conhecemos todas as dificuldades do SUS, especialmente quando se adoece sem se contar com um bom seguro saúde, constatamos aqui que o SUS ainda ofereceria infinitamente mais do que se oferece aqui. Isso, em um país que diz estar crescendo à custa dos petrodólares a uma taxa comparável com a China. Parece que os petrodólares não aparecem para melhorar as condições de vida e saúde, pelo menos como a gente esperaria ou sonharia.
Uma observação: reparem como o hospital onde trabalhamos, apesar das limitações de recursos, é limpo e bem cuidado, o que é algo raro no contexto africano.

“Aqui nem parece a África.”


Essa foi a frase do presidente Lula, ao visitar a Namíbia, uma gafe já que havia visitado outros países no continente, e visitaria outros. Mas realmente há um contraste entre a Namíbia e o resto do continente. Windhoek, que vocês podem ver nessa foto do centro da cidade, é bem limpa (considerada até a cidade mais limpa da África), e bem organizada. A gente sente a influência da África do Sul, que a dominou por muitos anos, e um pouco da herança alemã, que a colonizou até o início do século passado. Andar aqui nos lembra andar em países de primeiro mundo em vários sentidos, apesar do clima seco que incomoda bastante. O país é considerado desértico não só pelo clima, que é bastante influenciado pelo deserto do Kalahari ao sudeste, e pelo deserto do Namibe, ao noroeste, mas também por ser um país pouco populoso, com apenas cerca de 2 milhões de habitantes em todo o país, que talvez tenha o tamanho do estado do Pará, e com cerca de 300.000 habitantes em sua capital Windhoek (leia-se vínduk).

domingo, 22 de agosto de 2010

Clima de deserto

Uma curiosidade a respeito de Windhoek, capital da Namíbia onde estamos esperando o visto, é o clima de deserto que pega a maior parte do país. Aqui a baixa umidade (principalmente no período de estiagem entre maio e setembro, quando a média de precipitações é praticamente zero) chega a doer, literalmente. A umidade chega a 12% e a pele fica super seca, chegando até a coçar e pedir por hidratante. Eu, que tenho a pele super oleosa, senti o que nunca sentido antes, a pele super ressecada. Aqui, pela primeira vez na vida, descontando as queimaduras solares, usei creme hidratante na pele. Me senti até um pouco mais feminino hehehe. O nariz tem sangrado frequentemente. Melequinha vermelhinha hehehe.

A amplitude térmica também é grande, apesar de o inverno fazer com que as temperaturas não subam muito, especialmente em Windhoek, onde a altitude é em torno de 1700 m. A máxima durante o dia chega aos 28 C e à noite baixa para os 7 C.

Apesar disso, a cidade é super agradável, limpa, organizada e com uma boa infraestrutura. A influência alemã ainda está presente, além do legado da dominação sulafricana, que, apesar do apartheid, trouxe desenvolvimento ao país. É um país que vale a pena ser visitado, com paisagens e vida animal bem exuberantes.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ignorância que chega perto de assassinato

Semana passada Dr. Foster atendeu um rapaz de 16 anos que chegou com a barriga distendida e muitas dores. Como o exame clínico não dava para firmar o diagnóstico, e sugeria algo cirúrgico, ele foi levado às pressas para a mesa de cirurgia. Quando Dr. Foster abriu a barriga encontrou os intestinos cheios de folhas, com as alças intestinais em sofrimento. Ao conversar com a família,que omitiu a história talvez por vergonha, contaram então que o garoto havia passado pelos chamados “tratamentos tradicionais”, que no caso dele consistiram de terem sido feitas várias “lavagens” com ervas pelo reto, para tentativa de tratar algum tipo de dor de barriga. O tal tratamento levou o menino à morte, já que apesar de ter sido feita uma “limpeza” nos intestinos, houve necrose (morte de tecidos) dos intestinos, com todas as suas complicações catastróficas.
Fiquei muito triste, pois esse menino morreu por ignorância e falta de acesso a boa medicina. Aliás, isso é muito comum aqui, infelizmente. Os pacientes vão ao hospital “do Dr. Estêvão”, que tem uma boa reputação não só na cidade mas por todo país (muitos vêm de longe para consultar com ele), mas comumente passam primeiro pelos curandeiros e deixam a doença avançar até um ponto onde não é possível mais se tratar, ou quando as chances de sucesso do tratamento são muito pequenas.
Que Deus mude essa realidade!! Que Ele use por exemplo o programa de rádio que temos semanalmente (que parece ter uma boa audiência, notada pelos muitos telefonemas que recebemos ao vivo) para melhorar a consciência e o conhecimento básico sobre saúde. Que as pessoas saibam que os curandeiros não têm poder, e só o SENHOR, com a medicina a Seu serviço, pode realmente curar.

Fomos evacuados hehehe



Pois é, mais uma viagem à Namíbia. Dessa vez, porém, não precisamos da longa e dura viagem com o carro, enfrentando estradas muito ruins, longas distâncias, e toda burocracia, truculência e corrupção da fronteira. Aproveitamos uma carona com o avião da MAF (Asas do Socorro) e voamos para Windhoek. Foi uma viagem gostosa num pequeno avião Cessna, que durou cerca de 3 horas e meia (o avião grande faz em pouco mais de uma hora). Esperamos ficar pouco tempo na Namíbia, renovando logo os vistos e voltando para nosso trabalho e ministério.
Continuem orando por nós.

domingo, 8 de agosto de 2010

Feliz dia dos pais!

O título é também um desejo a todos os pais, mas, mais do que isto, é um testemunho. Hoje foi um dia bastante feliz. Não fiz nenhum passeio ou coisa parecida, aliás, trabalhei (como faço quase todos os dias pois no hospital só somos dois médicos que trabalham integralmente lá). O que fez o dia especialmente feliz foi uma homenagem que os meninos fizeram: cada um fez um cartão, expressando seu amor, carinho, admiração. Fiquei tão feliz, porque eles fizeram de coração e senti isso. Acho que o fato de estarmos aqui, onde não se encontra muita coisa para comprar e, quando se encontra é muito caro, os meninos trocaram os presentes usuais de dia dos pais (geralmente uma camisa, uma calça, um cinto, dependendo da minha necessidade detectada pela Norinha, e comprado tb por ela). Assim, na falta desses presentes, os meninos improvisaram e é claro que eu gostei muito mais.

Na vida, acho que todos sabemos que o amor, o carinho, a amizade, o apreço, valem infinitamente mais do que "coisas" que podemos adquirir, ou mesmo ganhar. No fim da vida, ninguém se importa se tem ou não tem "isto" ou "aquilo", e sim o quanto é amado, não é mesmo?

Sou muito feliz porque sou muito amado! Aliás, o consolo para quem não se sente amado é que, apesar de podermos ressentir a falta de amor por parte de pais, irmãos, amigos, amores, somos infinitamente amados por Deus, que quer se relacionar de forma real conosco. Jesus é a prova disto.

Feliz dia dos pais! Mesmo se você não é pai.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Triste Dia. Triste mesmo.

Aviso: Se você não quiser ficar triste não leia esta postagem.

Ontem foi um dia triste no hospital. Logo na chegada o enfermeiro me avisou que uma paciente tinha passado mal à noite. Era uma paciente com câncer de bexiga, com uma grande massa na região inferior da barriga, que tinha tido convulsões. Fui ver e a paciente estava em coma, sem condições de ir para a cirurgia que estava planejada para aquele dia e caminhando para a morte. Possivelmente resultado de complicações pelo fato do rim não estar funcionando... O triste é que os pacientes vão para o hospital depois de meses, estou falando a verdade, meses, e até anos (!!) de sangramento na urina, ou vaginal ou de tumores crescendo muitas vezes de forma bem vizível e até com desfigurações no corpo, sem procurar atendimento médico ou passando por atendimentos em serviços do governo, sem nada efetivo ser feito. Acho que é uma combinação de ignorância, estoicismo, falta de possibilidades, falta de recursos financeiros, crenças místicas; tudo isso junto possivelmente. Aí eles chegam lá no hospital com quadros extremamente avançados, sem possibilidade de tratamento ou com poucas chances de sucesso.
Falei com a família sobre a situação e eles optaram por levar a paciente para casa, para estar com seus queridos em seus últimos momentos. Acho que fizeram certo.

Pouco tempo depois fui ver uma criancinha internada há uns dois dias, de um ano e meio, pesando 6,5 kg (o peso de uma criança de uns 6 meses), que chegou com muita diarréia e desidratação. Fizemos o teste do HIV e foi positivo. Iniciamos a hidratação venosa, antibióticos e tratamento para amebas (que estavam presentes nas fezes) mas a criança não estava indo bem. Naquela manhã começou com insuficiência respiratória e não conseguimos fazer muito por ela. Em pouco tempo faleceu. Fiquei tão triste com a minha impotência e confrontado com essa pesada realidade. Tentei me consolar pensando que se ela sobrevivesse provavelmente sofreria mais ainda, com infecções causadas pela AIDS e a desnutrição, com o descaso, com a falta de recursos em todos os sentidos. Fiquei ali tentando não chorar com a mãe, que ligou para o pai da criança e brigou com ele por não ter ido nem uma vez sequer visitar a menina, que naquele momento estava morrendo. Algumas horas depois da criança ter falecido chega o pai, bêbado, brigando com o hospital por "ter matado sua filha". Talvez querendo jogar em cima de nós um pouco da culpa que estivesse quase sentindo, ou tentando não sentir. Não sei se sabia que provavelmente ele havia passado o HIV para a mãe, que por sua vez infectou a criança (tínhamos oferecido para a mãe e para o pai o teste mas estavam relutantes...). Triste demais. Tragédia demais. Desgraça demais (com o perdão da palavra).
A Cruz de Cristo nos convida para de alguma forma "entrarmos" no sofrimento do mundo, e se não pudermos ser instrumentos de cura pelo menos podemos ser instrumentos de consolo, de paz, de amor.
Continuemos a orar pela África com os seus sofrimentos, pedindo que essa situação mude, e talvez a gente possa também ser instrumento de mudança, ou pelo menos de benção nesse lugar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Colheita feliz


A Norinha estava super feliz hoje. Diante da dificuldade de se conseguir verduras e frutas aqui (hortifrutis aqui são caros e muitas vezes de qualidade ruim, às vezes trazidos da África do Sul, mesmo sendo o país de bom clima e solo... marcas da guerra... outras coisas também...) plantamos uma hortinha, e hoje colhemos bastante cenoura e alface, de boa qualidade e bem fresquinhos. Uma boa vantagem de se morar em casa com uma boa área em volta, coisa que o apartamento em BH não nos possibilitava. Benção dos céus, que faz a semente brotar, crescer e frutificar.
Na foto a Rachel está ao lado da Perpétua, nossa ajudante em casa, e as filhas do casal nosso vizinho (um português e uma alemã que trabalham aqui na área da educação), Mara e Timna, que "ajudaram" na colheita.

Amiga de Rottweiler?


Até eu fiz carinho nesse "cachorrinho". Seu nome é Bogo. Vocês já ouviram falar em lobo em pele de cordeiro. Pois é, esse é um vira lata em pele de Rottweiler. Uma doçura de cachorro. Aí está a Norinha, assistindo a "pelada" que fizemos na fazenda Tchincombe, ao lado do "bichano".

sábado, 17 de julho de 2010

Tchincombe




No fim de semana passado fomos a um retiro da missão da qual fazemos parte, a SIM. Foi numa fazenda, chamada Tchincombe, onde o irmão do Dr. Steve Foster, Stirling, mora com sua família, cerca de 200 km a sudeste de Lubango. Eles têm um projeto de desenvolvimento agropecuário lá, além de liderarem uma pequena igreja na comunidade local. Foram preletores o pastor de uma igreja em Toronto, no Canadá, chamado Charles Price, juntamente com sua esposa, Hilary. Tivemos um bom tempo lá. O local também é bonito, com um vegetação do tipo savana, apesar de muita areia, que é tipo uma extensão do deserto do Kalahari, que pega a Zâmbia e uma parte de Angola. Por ser um clima que tem um pouco do deserto, as temperaturas de madrugava beiravam o zero grau C e perto do meio dia subiam a cerca de 30 graus C, fazendo uma amplitude térmica enorme. Os meninos se divertiram bastante, além de terem tido estudos bíblicos para os adolescentes.
Aí estão algumas fotos do retiro, onde estiveram presentes cerca de 60 pessoas, a maioria missionários, da SIM e de outras missões. Foi um bom tempo de reflexão e renovação espiritual.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sobre a pregação no meio do mato (postagem anterior)


A postagem anterior fala de termos ido fazer uma pregação no meio do mato no último domingo. Eu mesmo que postei aquele texto mas tinha usado os famosos botões ctrl+c e ctrl+v a partir de uma mensagem que a Norinha tinha escrito para sua irmã Débora. Depois que postei fiquei pensando que o texto, como foi escrito no meio de um e-mail, falava mais das curiosidades do que aconteceu, e não expressava a riqueza de termos ido ali.

Fiquei pensando em como o local, com bancos que eram apenas galhos de árvores sobre pequenos tocos, debaixo de umas árvores, de alguma forma mostravam a simplicidade do que é ser igreja, sem sofisticações, aparelhos, ou tecnologia. As pessoas vinham chegando como que de lugar nenhum, no meio dos arbustos, e logo estávamos ali umas 50 ou mais pessoas, a maioria crianças, talvez a maioria sem bilhete de identidade ou até certidão de nascimento, desconhecidos do mundo, mas que ali se tornavam povo de Deus, com rosto, nome, valor. Aquela sombra à beira da estradinha se tornava um santuário, lugar santo, onde a gente podia cultuar a Deus e ouvir sua palavra. Fui traduzido para a língua local e contei para eles a história do filho pródigo que Jesus contou. Apesar das barreiras da língua e da cultura, acredito eles puderam entender aquela que é a história de todos nós, e do amor de Deus por nós, seja na Galiléia ano 30, no Brasil do século 21, ou no meio do mato no interior da África.

Fico ainda devendo as fotos mas ainda vou consegui-las.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pregando no meio do mato

Ontem fomos a um culto num lugar que fica há uns 80 km daqui, mais ou menos, chamado Ndongue. É um ponto de pregação que o irmão do Dr. Foster e a esposa dirigem uma vez por mês. É na beirada de uma estradinha de terra e realmente não tem nada, só uns galhos de madeira em cima de umas torinhas, que quebram a toa, debaixo de uma árvore. O Du pregou e um homem traduziu prá língua do pessoal (acho que o nome da língua é Olungambo). Encontramos com os sobrinhos do Dr. Foster na beira da da estrada principal e fomos seguindo a caminhonete deles que estava lotada de gente. Eles moram numa fazenda a umas quatro horas daqui. Os pais estão na Namíbia, então eles convidaram o Dr. Foster prá pregar. Como ele viajou, o Du se ofereceu prá pregar no lugar dele. O problema é que não sabíamos direito se tinha igreja ou não. Aí, apesar dos meus avisos de que podia ser simplesmente um lugar debaixo de alguma árvore, na beira da estrada, as meninas foram mais arrumadinhas. Uma de vestido e a outra de saia nova. Acho que não teve problema afinal, pois o pessoal estava ali parecendo que com sua melhor roupa, limpos mesmo diante de tanta poeira e dificuldades para se lavar uma roupa.

No início do culto, o galho em que eu e o Du estávamos sentados, quebrou. Aí fui sentar numa cadeira de plástico(um luxo por ali) e o Du ficou em pé. Mais para o final do culto, foi a vez do galho em que os meninos estavam sentados com os sobrinhos do Foster. Terminaram o culto em pé ou sentados em pedras. Toda hora passava um tanto de bois, vacas e bezerros e ainda bodes e cabras. As vacas tinham sininhos no pescoço e passavam fazendo barulho. Uma piada! O Du pregou sobre o texto do filho pródigo. Quando tentava perguntar alguma coisa para o povo, ninguém dizia nada. Ele não sabia se era porque estavam com vergonha ou porque não estavam entendendo o que estava sendo perguntado. Tinha também um homem mais velho que levou a própria cadeira e ficou de lado assistindo. Toda hora falava alguma coisa na língua dele, que só o pessoal entendia. Acho que ele era o Soba daquela região. O Soba é uma espécie de chefe tribal. Acho que ele não estava concordando muito com o que o Du falava e ficava resmungando alto. Da próxima vez acho que vamos deixar ele pregar(rsrsrs). Foi uma experiência muito interessante. No final da reunião vieram alguns que estavam no culto para o Du "consultar". Talvez, como sabiam que o Dr. Foster ia estar, apareceram, mas foi bom que ouviram a palavra. Chegamos aqui em casa umas 2 e meia da tarde, mortos de fome e sede e um pouco bronzeados, mas tudo bem, valeu!
Norinha
PS: Depois posto umas fotos desse culto pois a sobrinha do Dr Foster fotografou e ficou de mandar para nós algumas "fotas"

Vitória da vida sobre a morte!


Essa menina que aparece na foto com seu pai me deixou muito feliz. Sem nome é Joana Ndongwa. Ela tem 14 anos e chegou ao hospital muito grave, com confusão mental, e suspeita de malária cerebral. Os exames confirmaram o diagnóstico e as lâminas estavam repletas do parasita da malária, indicando a gravidade do caso. Conversei com a família sobre a gravidade do caso, falando que precisávamos orar pela menina. Nos próximos dias ela piorou e ficou em coma por uns 5 dias. Cheguei a chamar seu pai e dizer que ela podia morrer a qualquer momento. Falei com ele assim: "Sei que é uma notícia que nenhum pai gostaria de ouvir, mas tinha que ser muito honesto com o senhor. Vamos continuar orando por ela." Tivemos inclusive de trocar os medicamentos, diante de seu quadro. No sexto dia porém ela começou a reagir e com uns 8 dias de tratamento estava bem melhor. Ainda não está 100% mas está quase totalmente boa. Que alegria! Pensei mesmo que ela ia morrer pelo fato de estar tão grave e piorando. Graças a Deus ela melhorou e já teve alta do hospital. Tenho certeza que nossas orações a Deus foram importantes.
Casos como este nos animam e confirmam a validade de estarmos aqui.
Amanhã vou falar na rádio num programa semanal que um empresário indiano que foi tratado por nós aqui tem patrocinado para o hospital, para que falemos sobre temas de saúde. O tema de amanhã vai ser malária, e vamos enfatizar a importância dos cuidados de prevenção.
Continuem orando por nós e pela saúde do povo angolano. Que a vida realmente vença a morte a cada dia!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nova aventura! Dessa vez a culpa foi toda minha hehehe




Foi uma burrada!! O domingo tinha um sol bonito e apesar do tempo “fresquinho”, resolvemos descer o belo caminho até a praia, na cidade chamada Namibe, região de deserto. A viagem é de cerca de 180 km e, acreditem se quiser, a estrada é boa. Chegamos em cerca de 2h e meia. Estávamos aproveitando o mar e a turma tinha saído para dar uma caminhada. Como a estrada tinha terminado, havia marcas de pneus na praia e a areia parecia estar firme, resolvi arriscar com o 4x4 que tenho usado aqui. Mal sabia eu que o carro não é dos melhores na areia e é preciso uma certa habilidade atrás do volante (o que no caso faltava hehehe). Não deu outra: me atolei com o carro e ficamos ali umas 3 horas, até que umas almas generosas nos ajudaram com um pouco mais de experiência na areia e uma “puxadinha” com outro carro, com muita gente empurrando também. Saímos finalmente. Aí tínhamos que passar em um posto para encher os pneus que havíamos esvaziado bastante para ajudar na tração nas areia. Enfim, saímos de volta em torno das 18: 00 e perdemos o primeiro tempo do jogo do Brasil (que aqui iniciou às 19: 30). Nem deu para lamentar pois o Brasil já ganhava por 1x0 quando chegamos e ganhou bem no segundo tempo, apesar da expulsão do Kaká, que foi o ponto triste da noite.
Aí estão as fotos do meu “feito” e do passeio.
PS: Quem acha uma mulher maravilhosa é muito feliz: acreditem que minha mulher não me chamou de burro nem me xingou heheheh

domingo, 13 de junho de 2010

A Coroa de Cristo


Ontem tivemos uma manhã de oração com outros missionários. Na parede da casa em que estávamos, uma coroa de espinhos como "decoração". Fiquei ali olhando e pensando na coroa de Cristo, marca de amor, sacrifício, renúncia, entrega, serviço. Fiquei pensando em como a gente fica buscando outras coroas, esquecendo do caminho apontado pelo Senhor. "Pois o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de muitos."

Triste Realidade e o Frio da África




Estamos de volta a Lubango há cerca de uma semana, e também de volta ao hospital, foco do nosso trabalho aqui. No retorno ao trabalho, as histórias se repetem um pouco, infelizmente. O Jose Katewa, de 6 anos, chegou ao hospital já com 2 semanas de coma, por malária cerebral. Iniciamos o tratamento e ele tem respondido um pouco mas continua em coma profundo. Falei com os pais que as chances de sobreviver sao pequenas, além de poder ficar com sequelas neurológicas graves. Orem por ele pois Deus pode fazer um milagre, não é mesmo?

Tem sido bom desfrutar de nossas mães aqui conosco. Os meninos então estão se esbaldando (nem sei se escrevi certo, ou serto hehehe). Temos aproveitado para passear com nossas mães (nas minhas horas de folga). Aí estão algumas fotos dos passeios.

Uma coisa que tem me impressionado é o frio aqui em Lubango. Não que seja dos piores mas as noites ficam em torno de 15 graus e a gente sente como se fosse menos do que isto. A gente não espera isto da África, não é mesmo? Aliás, talvez os brasileiros estejam impressionados com o frio que faz em Johannesburgo, onde está a seleção. Aqui é um pouco menos frio mas chega a incomodar um pouco. A gente pensa que África é calor o ano todo mas mais ao sul do continente e onde a altitude é maior, como Lubango e Joburg, faz frio mesmo. O pior é que aqui é um planalto rodeado por uma cadeia de montanhas (a serra da Leba) e a fumaça das fogueiras fica meio que parada.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Depois da "batalha", enfim chegamos em casa

Foi pior do que pensei mas muito melhor do que poderia ser. Aliás, essa tal de "lei de Murphy" é ridícula; me explico: se tudo que pudesse dar errado realmente desse, os pneus de nossos carros furariam todos os dias, a gente teria um acidente de trânsito diariamente, nenhum de nós teria nascido para começar. É difícil pensar em tudo que pode acontecer de errado, e triste saber que raramente somos gratos por tantas coisas boas que nos acontecem diariamente sem que percebamos. Bem, filosofias a parte, nossa viagem foi bem pesada: no primeiro dia foi tranquilo, na parte da Namíbia. Dirigimos por 700 Km até a fronteira, o que levou mais ou menos 8 horas (como já falei antes, as estradas na Namíbia são muito boas). Pernoitamos em um hotel na fronteira do lado da Namíbia, para seguir viagem no outro dia pela manhã. No outro dia, ao chegarmos à fronteira nossos problemas começaram: o processo geralmente é demorado, umas 2 horas normalmente, mas a imigração angolana insistiu em que tivéssemos uma carta convite (a mesma que havia sido enviada para o consulado angolano e sem a qual jamais poderíamos ter os nossos vistos estampados no passaporte). Não adiantou argumentar, a funcionária queria nos mandar de volta para a Namíbia. Aceitou que se mandasse um fax com a tal carta. Liguei para o hospital e pensei que era só esperar. Depois de uma hora liguei para o hospital para saber o que se passava e a resposta foi que ele estava tentando conseguir alguém por perto para receber o fax, pois a imigração não tinha fax!! Acabei conseguindo uma lojinha perto da fronteira onde recebiam fax. Depois de receber a carta e levá-la de volta à imgigração, mais uma horinha de espera. Depois do carimbo de entrada e a liberação dos passaportes, tínhamos ainda a alfândega, que é também bastante demorada. Bem, resumindo, ficamos quase seis horas ali! O pior é que isso significava passar pelo pior trecho da estrada, os tal 80 km muito esburacados, à noite. Fizemos esse trecho em quase 4 horas mas graças a Deus sem nenhum problema mecânico, pneu furado ou perda de bagagem (tinha bagagem amarrada no "rack" em cima do carro). No caminho de cerca de 450 km da fronteira até nossa casa fomos parados em 4 barreiras policiais, sendo que na última, às 23:30 horas, o policial pediu que eu retirasse toda a bagagem do carro!! Obviamente ele sabia que tínhamos já passado por todo o processo na fronteira e por todas as barreiras anteriores. Depois de suplicar por clemência ele concordou em apenas revistar o carro sem retirar as bagagens. Infelizmente o país mesmo após 8 anos sem guerra ainda tem toda a estrutura e o comportamento dos tempos da guerra, algo que não tem explicação. No total, foram 15 horas de viagem, 7 delas à noite, mas chegamos bem em casa, quase 1 da manhã, onde reencontramos nossas mães, que tinham um jantar muito gostoso preparado para nós, sem contar todo o carinho e os presentes enviados para toda a família. Foi uma alegria imensa, que nos fez esquecer a luta que a viagem tinha sido. É bom estar de volta e logo retomar o trabalho no hospital, onde sabemos que temos um importante papel. Isso também nos faz esquecer as dificuldades enfrentadas e pedir que o Senhor mude a realidade desse país, que pode crescer tanto mas precisa de mudanças estruturais radicais. Estejam orando conosco por isso e também por nosso trabalho aqui.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Alívio!!

Foi muito melhor do que pensei: peguei os passaportes hoje na DHL e fui direto à imigração daqui. Como comentei, nossos vistos de entrada aqui na Namíbia estavam vencidos, e lá fui eu, ao chamado Home Affairs Namíbia, algo como uma Polícia Federal daqui. Tinha gente de todo tipo: tirando documentos, passaportes, tentando vistos permanentes. A sala era bastante cheia mas relativamente organizada, inclusive com filas que eram mais ou menos respeitadas. Lá o maior problema foi que tivemos que pagar umas taxas para renovar (uns 300 e tal dólares), além de algumas filas e umas poucas horas de espera. Porém, a alegria foi que saímos de lá com os passaportes e novos vistos, prontos para viajar para Angola. Como já era a hora do almoço, optamos por sair amanhã de manhã. Vamos dormir perto da fronteira e completar a viagem na quinta. Orem por nossa viagem, para que o carro não dê problema, nenhum acidente, pela nossa passagem pela fronteira (onde tem muita burocracia e gente querendo te tirar um "dinheirinho"), por tudo. Esperamos estar "em casa", em Lubango, na quinta à tarde. Depois contamos como foi.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Família bonita (modéstia a parte)


A família unida (que maravilha!!) hehehe.
Ao fundo (sem dar para ver muito), a paisagem plana e um pouco árida daqui da Namíbia.

Imagens de passeios na Namíbia





As imagens dos animais (as de baixo, por favor hehehe) são de um passeio no Parque Nacional chamado Etosha, muito bonito.
Os meninos e Norinha à frente de um ônibus com o tema da Copa do Mundo.
Norinha e Paula num parque público aqui em Windhoek.


O hospital CEML (Centro Evangélico de Medicina do Lubango), onde trabalhamos e para onde esperamos voltar em breve.

"Garrados" na Namíbia

A Namíbia é diferente. Como disse nosso presidente quando passou por aqui, "nem parece África". Tudo limpo, relativamente organizado, muito ocidentalizado. Foi um tempo bom para descansar, ler, conviver mais intensamente em família, passear. Teve um pouco de "estresse" também, por algumas dificuldades e "surpresas". Nada muito importante: uma pequena enfermidade na Norinha, que já passou, problemas mecânicos no carro que não é muito novo, falta de amigos e parentes aqui, coisas assim. A gente vai aprendendo a confiar em Deus quando estamos frágeis e desprotegidos do ponto de vista humano.
Já estamos aqui há um mês aguardando nossos vistos para voltar para Lubango. No site da DHL aparece que o pacote com os passaportes já chegou aqui em Windhoek. Amanhã cedo devo pegar os passaportes e ir à imigração para tentar renovar nossa permissão para ficar aqui (que venceu devido à demora com os vistos/ passaportes). Orem para que não haja problemas e muitos atrasos pois queremos muito voltar para Lubango. O trabalho ali nos aguarda, assim como nossas mães (minha e da Norinha) que foram para lá para nos visitar. Elas nos esperam ansiosamente. Orem pela viagem de volta, 1100 km, com um trecho de 80 km depois de atravessar a fronteira que está em péssimas condições. A fronteira também é um desafio, com uma certa burocracia. Carecemos das orações de vcs. Vamos mandando notícias.