sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Trabalhando com Dra Karen


Desde o início de agosto, tenho tido a alegria de trabalhar por 1 dia da semana em uma clínica distante do Lubango uns 30 km. Apesar da distância pequena, é impressionante como a realidade do local é diferente da do hospital CEML, onde trabalho nos outros dias. Ali nessa clínica atendemos mais pessoas que moram em pequenas vilas, nos seus casebres, distantes da cultura da cidade. Poucos que são atendidos ali falam o português, e sempre é preciso alguém ou da família ou funcionário da clínica para traduzir a consulta. Muitos vivem em condições muito precárias, e a malária e a tuberculose são muito freqüentes. Ali na clínica vive há uns 20 anos a Dra Karen, médica canadense, que tem dedicado sua vida ao atendimento dessas populações, esquecidas e desprezadas por muitos, mas não por Deus e por aqueles que se dispõem a servi-los, como é o caso da Dra Karen. Dá gosto estar ali, e ver o seu carinho, atenção e dedicação, lutando contra muitas resistências para combater doenças que já deveriam ter sido erradicadas da face da terra, não fosse a pobreza e baixas condições de vida de uma grande parte da população mundial. Muitas vezes ela tem que lutar contra as próprias estruturas de saúde do país, para garantir que as medicações sejam providas a essa população. Dra Karen é um doce de pessoa, mas “boa de briga”, quando é preciso.
Trabalhando ali também deixou claro como a “burrocracia” trabalha contra o povo. Dra Karen teve que ir às pressas para o Canadá, devido a uma situação de cirurgia de urgência de seu pai, com sua mãe já idosa sem condições de lidar com a situação sozinha (a gente percebe que no chamado primeiro mundo não existe a estrutura familiar e comunitária para atuar nessas ocasiões, como existe nos chamados Terceiro e Quarto Mundos). Como eu tinha que sair também, pela renovação dos vistos, a clínica ficou sem médico algum. Deixei meu telefone com os enfermeiros, que poderiam discutir comigo se algum caso mais grave chegasse ali. Enquanto estava batendo a cabeça com a burocracia da embaixada aqui, que não queria aceitar a minha carteira de identidade que havia sido emitida pelo Conselho Regional de Medicina (o que já havia sido aceito várias vezes antes!!), o enfermeiro esteve em contato comigo por causa de uma menina de seis anos, que chegou lá toda inchada; me parecia pela descrição uma descompensação cardíaca, talvez por um problema congênito ou infeccioso. Pois é, enquanto lutávamos contra a burocracia, a menininha morreu. É claro que não dá para dizer que se eu estivesse lá a menina seria salva, mas dá para dizer que esses “burrocratas”, que vivem tranquilamente no Brasil, não estão nem aí para o seu próprio povo, morrendo sem atendimento médico. DESABAFEI!!