sábado, 5 de março de 2011

Você já ouviu falar de fístula vésico-vaginal?


Fique tranqüilo: não é nenhum termo pornográfico. Na verdade, é uma doença. Não me lembro se conhecia essa doença antes de vir para a África. Aqui, fiquei conhecendo não apenas a doença, mas seus terríveis efeitos.
Se trata normalmente de uma complicação obstétrica (especialmente aqui na África), geralmente em partos muito prolongados, que levam até dias. A situação mais comum aqui é a seguinte: meninas novas, pobres e sem acesso a assistência médica, se engravidam e na hora do parto, a cabeça da criança simplesmente é maior do que a passagem da sua pelve, ou há alguma outra complicação que dificulta a passagem do bebê. O trabalho de parto se prolonga indefinidamente já que ou não têm acesso a serviços de saúde (o que é mais frequente) ou não querem ir ao hospital por medo ou vergonha de não "conseguirem ser mãe por si mesmas." Com a morte do bebê ao fim do trabalho de parto infindável e mal sucedido, acontece também a laceração da bexiga e da vagina.
As consequencias médicas, psicológicas e sociais são simplesmente trágicas: a menina perde a criança, com todo o peso emocional disto, e fica com uma ferida que faz a urina "vazar" da bexiga para a vagina, fazendo que ela fique constantemente "molhada" e com cheiro de urina.
O marido geralmente abandona sua esposa jovem em decorrência disso, com toda a humilhação e opróbrio secundários. Além disso, devido ao seu mau cheiro, as meninas acabam vivendo isoladas da família e da sociedade.
Triste demais, né? Bom, a boa notícia é que nosso hospital tem uma verba especial de uma entidade norte-americana, a Fistula Foundation, para tratar essas meninas, que geralmente são muito pobres e vêem dos grotões longínquos do país. Elas são operadas e acompanhadas em nosso hospital, que oferece também apoio logístico para ficarem por perto até o término do tratamento. Muitas têm assim sua saúde e dignidade restauradas.
Fico muito feliz por este trabalho que nosso hospital faz, mudando a realidade de tantas meninas de forma tão significativa.
Essa foto é de uma enfermeira canadense que passou conosco três meses e se dedicou a dar aulas para as meninas com fístula, ajudando-as a melhorar sua auto-estima e ensinando-as coisas práticas como matemática simples, costura e artesanato. Bonito trabalho. Valeu, Angela.

3 comentários:

  1. E a gente aqui nem imagina o que se passa por ai...
    Minha oração é para que Deus abençoe esse trabalho, para que Deus se revele a essas meninas e as restaure por fora e por dentro.
    Abs,

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  2. Nossa que terrível Tio, eu nunca tinha ouvido falar,não aprendemos isso em obstetrícia não, bom agora aprendi algo mais, Tio Du tb e cultura rsrsrs
    Saudades de vcss
    bjs

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  3. Parabéns pelo excelente trabalho!
    Sou brasileira, 38 anos e estou passando por esse mesmo problema. Sofri um acidente de carro em dezembro de 2010, e até hj sofro com incontinência urinária, só agora que os médicos descobriram que eu tenho uma fistula vésico vaginal. Estou com cirurgia marcada! graças a Deus!
    Não sei como, mas gostaria muito de ajudar essas mulheres...

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