domingo, 13 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher? Eihn??

Esse ano aqui eles perderam um de seus feriados: o dia internacional da mulher, que é feriado nacional aqui, caiu na terça de carnaval, também feriado. Assim, não se lembrou muito da mulher, já que aqui também tem "folia", apesar de se limitar basicamente à terça-feira e não contagiar tanto o país como o que acontece no Brasil.
Bem, o que queria comentar não é sobre o carnaval e sim sobre o Dia Internacional da Mulher, diante do que acontece aqui. Na quarta-feita, dia 09, atendi uma senhora que havia vindo de longe para consulta. Trazia inúmeras receitas e exames, simples e básicos mas numerosos, que não mostravam doença aparente. Suas queixas eram um pouco como chamamos no meio médico "inespecíficas", do tipo dor no peito e nas costas, mas sem apontar para uma doença cardíaca, pulmonar ou da caixa torácica. Tinha também insônia e parecia deprimida, apesar de negar estar "para baixo". (Um parêntese: minha experiência aqui é que os angolanos tendem a negar problemas emocionais, ainda mais do que os brasileiros, o que parece ser assim o substrato mais favorável para o surgimento das doenças chamadas psicossomáticas, ou seja, o corpo grita quando nossa mente não produz outros meios de expressar os "problemas da alma".)
Enfim, diante dessa impressão comecei a indagar um pouco sua vida pessoal e ela me revelou o seguinte: foi mãe de sete filhos, dos quais seis ainda vivem, o mais velho com 17 anos e o mais novo com quatro anos. O "esposo", se posso chamar assim, no início a tinha como única esposa, mas com o passar do tempo foi arrumando mais esposas, e atualmente era "esposo" de cinco (!!!). O número de filhos foi diminuindo à medida que as esposas se acumulavam. Três com a segunda, dois com a terceira, um com a quarta e a quinta, uma adolescente de 17 anos, encontra-se grávida no momento. Perguntei com qual delas ele vivia ou como se dividia entre suas mulheres. Ela então me disse que não sabia bem. Nunca dorme na casa dela nos últimos anos, mas vem todos os dias para pegar suas roupas lavadas, comer, e, pasmem, pegar dinheiro com ela, que tem uma vendinha na feira popular daqui, chamada de "praça". Ela disse que até agressões físicas sofria do "marido", especialmente se não lhe dava dinheiro.
Enquanto ia perguntando e ela ia respondendo, algumas lágrimas apareceram em seus olhos. Tinha motivos para as dores no peito e nas costas! Que situação mais oprimente!
O pior é que esta história aqui se repete de forma tão freqüente... e se repete também por toda África, infelizmente, tanto no ambiente urbano, quanto, até de forma mais comum, no ambiente rural, em culturas onde o privilégio masculino e a opressão feminina ainda sobrevivem no mundo atual. Além disso, para piorar a situação, a violência doméstica é extremamente comum aqui, quadro agravado pelo consumo quase que desenfreado do álcool.

O que vale o Dia Internacional da Mulher como feriado nacional?

Nos faz lembrar a conversa de Jesus com a mulher samaritana, relatada no capítulo 4 do evangelho de João: "se você conhecesse quem é esse que te pede água, você lhe pediria e ele te daria da água da vida."
Viva a mulher angolana! Que Deus as ajude a enxergar a sua própria dignidade e a quebrar esse jugo perverso!

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