segunda-feira, 11 de abril de 2011

Terra da vida e da morte

A taxa de natalidade aqui é incrível. Dá uma média de seis filhos por mulher. É muito comum a gente encontrar mulheres jovens com oito e até dez filhos. Um amigo nosso ginecologista do Brasil disse que estava ajudando em um projeto de atendimento de casos de infertilidade em Luanda e nossa reação foi mais ou menos assim: você está louco? O que eles mais têm aqui é fertilidade.

O triste é que muitas vezes, dos oito ou dez filhos, 2 ou 3 ou 4 já morreram, por muitos motivos, geralmente ainda pequenos. Além da enorme taxa de natalidade, a mortalidade infantil é altíssima, e a expectativa de vida aqui ainda é na faixa dos 40 anos de idade. A malária, a febre tifóide, a tuberculose, sem falar na SIDA, matam muito aqui, sem contar as outras causas comuns também ao resto do mundo.

No último sábado assinei três atestados de óbito (e olha que o hospital só tem cerca de 35 leitos). Um dos casos não me deixou tão triste, já que era um senhor que vinha sofrendo de câncer de estômago já há dois anos, e sabíamos que ia morrer a qualquer momento. Os outros dois porém me deixaram muito triste: um era uma criança de 6 anos, que estava há vários dias no Hospital Pediátrico aqui da cidade e os pais resolveram levar para o nosso hospital. Já chegou muito grave, com infecção generalizada na barriga, causada pela bactéria Salmonella da Febre Tifóide. Uma doença basicamente causada por água não filtrada e contaminada. Dr Foster o operou mas não pode fazer muito, já que a infecção estava alastrada por todo abdome.

O outro caso me deixou também muito triste: uma criança de 9 anos, que chegou ao hospital com crises convulsivas de início há alguns dias, e não tivemos condições de dar nenhum diagnóstico específico, só descobrimos que a criança tinha também um problema no coração, que não temos certeza se fazia parte do mesmo problema. Tentamos controlar as crises, mas com dificuldades para conseguir as medicações aqui a criança acabou falecendo de complicações. Fiquei muito chateado pois não tivemos a chance nem de dar o diagnóstico; ou seja, de saber se era algo que poderia ser tratado ou não.

Assim, temos esse contraste absurdo, onde o nascimento e a morte são experiências tão frequentes aqui. Parece que as famílias estão continuamente celebrando a morte e a vida, o nascimento ou o falecimento de alguém. Talvez a morte e o nascimento sejam até um pouco banalizados, diante da frequência com que acontecem aqui.

Estava lendo um texto em que o autor chamava a atenção para o fato de que nesses momentos em especial a fragilidade humana é exposta com muita força.

Infelizmente, já que nosso hospital é mais um hospital geral e menos uma maternidade (apesar de que temos também partos lá), convivemos muito mais com a morte do que com o nascimento.

Nossa oração é que possamos ser aqui testemunhas do Senhor, o autor e doador da vida, e que venceu a morte por nós. Oramos também para que sejamos seus instrumentos para salvar vidas, tanto no sentido natural quanto no sentido espiritual.

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