domingo, 20 de fevereiro de 2011

Gosto doce e azedo

Estamos de volta à bela Lubango, graças a Deus. É bom estar aqui, sentindo que é aqui que o Senhor nos colocou para servi-lo. Tivemos um bom tempo no Brasil, revendo família, amigos, irmãos. E comendo muito hehehe. Engordei 3 kg, apesar de ter tentado segurar e ter aumentado a atividade física. Agora é correr atrás do prejuízo, metafórica e literalmente. Aliás, estou correndo agora em Lubango de uma maneira mais regular. Tenho corrido nas ruas de terra mesmo, apesar de que a chuva nessa época, quase que todo dia e algumas vezes o dia todo, atrapalha bastante. É interessante correr no meio das vilas aqui, e acho que chamo muito a atenção. O pessoal fica olhando, às vezes rindo, às vezes acenando, diante da insólita visão de um branquelo invadindo correndo o seu mundo. É meio humilhante para mim, que sirvo de espetáculo, mas se faço pessoas felizes tá bom hehehe. Ontem ao passar por mim um rapaz fez uma gozação gritando: "Ô escurinho..." Acho que ele estava rindo das minhas pernas brancas eheheh.

No hospital os sentimentos oscilam entre a satisfação de se fazer o bem e a tristeza de não conseguir fazê-lo. Na quinta-feira chegou um menino de três meses com insuficiência respiratória e o diagnóstico que conseguimos dar foi de malária grave, acometendo o pulmão. Fizemos o possível diante dos nossos recursos limitados para salvá-lo, mas ele evoluiu para a morte em poucas horas. Quando estava agonizando, perguntei para a tia que estava ao lado da cama, já que parece que a mãe não estava agüentando aquela cena, sobre quantos filhos a mãe tinha, tentando me consolar se ouvisse que a mãe tinha muitos outros filhos, o que é comum aqui. A resposta porém, ao invés de consolar, me entristeceu mais, já que a mãe tinha tido cinco filhos, mas esse era o terceiro que morria, só sobrando à mãe duas meninas. Algo trágico demais mas, infelizmente, nem tão incomum aqui. Se a gente no Brasil não consegue aceitar a perda de um filho, e com razão, fiquei tentando imaginar o que significava já ter perdido três dos cinco filhos, todos amados certamente, diante do amor que essa mãe mostrava por esse pequenininho.

A gente aqui fica pensando se há esperança para essa terra, se Deus pode fazer alguma coisa, e por que não faz o que a gente gostaria de ver? Estou lendo o livro "Oração" do Philip Yancey, onde ele reflete sobre essas perguntas, sem cair em clichês e simplismos. Continuemos a orar por Angola. "Que venha o teu Reino, Senhor."