quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quanto vale esse sorriso?


Essa menina com esse belo sorriso se chama Ruth Bimbi e tem dez meses.
No sábado à noite fomos chamados pelo hospital porque havia chegado uma menina com dificuldade importante para respirar, depois de um período em que tinha estado rouca. Enquanto falavam comigo ao telefone, podia escutar a menina respirando de forma bem ruidosa, aparentando pelo ruído respiratório uma obstrução das vias respiratórias. Diante da história de rouquidão e com aquela respiração sonora, suspeitei de obstrução da glote ou laringe, e pedi que fizessem adrenalina e corticóide mesmo antes de eu chegar ao hospital. Subi de carro para o hospital bastante desesperado, orando pela menina. Quando cheguei ao hospital, a menina estava com uma insuficiência respiratória grave e com sinais de obstrução das vias aéreas, que não haviam melhorado com as medicações. A mãe relatou que os sintomas haviam iniciado há uns 2 dias, quando estava dando uma sopa com peixe e possivelmente a menina havia “se engasgado” com um espinho de peixe, iniciando a rouquidão. No sábado havia começado a ter dificuldade para respirar, que foi piorando progressivamente, e aí a mãe levou a menina ao hospital.
Enquanto meio desesperadamente tentava qualquer coisa para manter a menina respirando, consegui falar com o cirurgião angolano que dá cobertura na ausência do Dr. Foster, que se dispôs a ir até o hospital, depois de pegar o anestesista de plantão. Depois de uma hora eles chegaram e a menina bravamente “agüentava as pontas”. Levamos a menina para o bloco cirúrgico e com alguma dificuldade fizemos a traqueostomia para que respirasse bem. Depois da pequena cirurgia a “miúda” (como eles dizem por aqui) respirava normalmente e dormiu sossegada. Agora aguarda a chegada do Dr. Foster para que ele possa fazer um exame para ver e retirar o corpo estranho, se ainda estiver lá, e podermos tirar a traqueostomia para ela voltar para casa.
Com essas experiências a gente fica pensando sobre o valor da vida. Que alegria poder ter participado na preservação da vida dessa criança. Que recompensa em ver o seu sorriso (nos primeiros dias ela chorava quando me via hehehe). Fico pensando que valeria a pena ter vindo para Angola só por esse motivo, mas acho que a gente tem mais vidas para ajudar a salvar aqui. Continuem orando por nós e por aqueles diante de quem nos encontramos, às vezes em condições de ajudar e muitas vezes infelizmente não. Que o Senhor continue nos usando aqui como instrumentos do Seu amor e graça.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O que vc fez sábado?





Bom, a vida aqui tem suas compensações. Estamos a mais ou menos umas 2 horas da praia (mineirinhos, morram de inveja hehehe), apesar de que se quisermos uma praia mais isolada, mais "pura", aí leva-se perto de 3 horas. Sábado passado fomos explorar uma praia ainda desconhecida da turma de missionários aqui. E valeu a pena. O caminho era no meio do deserto, no meio de belas estruturas arenosas, esculpidas pela mão do Senhor através do vento e da água (quando esta aparece por aqui). Enfim chegamos. Uma praia linda, na ponta do deserto. Ficamos lá umas 4 horas, curtindo uma gostosa praia e também explorando o local. Para nossa surpresa (nem tanto, porque isso não é tão raro por essas bandas) apareceram umas baleias para nos saudar (baleias mesmo, não estou me referindo pejorativamente a nenhuma mulher gorda; não dá para ver na resolução de foto do blog mas, acreditem, eram baleias mesmo). Fiquei pensando: se estivesse em BH a essa hora estaria talvez assistindo a algum jogo da Série B na Rede TV hehehe, que upgrade! hehehe Foi um tempo muito gostoso e a viagem em si é cheia de paisagens bonitas, apesar de trechos do caminho onde só se passa com um bom 4X4. Estou virando traileiro aqui também. Os meninos estão aprendendo a curtir mais a natureza, se desintoxicando da vida de "Pátio Savassi" aos sábados hehehe.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cinco mulheres!

Estava fazendo uma consulta de uma senhora, e um dos testes para sífilis foi positivo. O esposo estava na sala e iria tratá-lo também. A enfermeira que me acompanhava teve a esperteza de perguntar-lhe quantas mulheres ele tinha para também serem tratadas, pergunta que não passaria pela minha cabeça. Para minha surpresa ele respondeu que tinha cinco mulheres! Eu até ri, e ele riu também. A esposa riu meio sem graça, numa mistura de constrangimento e aquiescência. Meu riso foi meio reflexo, sem pensar na seriedade da questão, só imaginando o absurdo prático da situação.

Olha que o homem não era nenhum líder tribal que vivia no meio do mato aqui. Era funcionário público e tinha um nível de escolaridade razoável. A enfermeira até tentou questioná-lo, perguntando se ele era tão rico assim para sustentar tanta gente. Ele respondeu que as mulheres ajudavam no sustento, e assim dava para sobreviver.

Mesmo sob o risco de ser taxado de etnocêntrico e desrespeitador das culturas alheias, fico pensando na situação da mulher africana, objeto do prazer e da satisfação masculina, se submetendo a uma relação de dominação e uso. Aqui a gente vê também as mulheres trabalhando para sustentar maridos que pouco se esforçam para cuidar de suas famílias. A senhora que trabalha conosco acorda cedo para buscar água para a família para depois vir para nossa casa, enquanto o marido encontra-se desempregado há meses (pediu demissão...) e não tem "forças" para pegar a água para sua casa. A Norinha tem feito seu trabalho "subversivo" na cabeça dela hehehe.

Creio que vai levar muitos anos para a condição da mulher mudar por aqui. Na minha classe de Novo Testamento ensinei na semana passada, no estudo do livro de Efésios, como o marido deve amar sua esposa "como Cristo amou sua igreja", se entregando totalmente por ela. Nós brasileiros, eu inclusive, precisamos aprender isso também.