segunda-feira, 20 de setembro de 2010

20 anos abençoados


No último dia 15 eu e Norinha comemoramos 20 anos de casados!

Não fizemos nada de muito especial; apenas fomos a um restaurante em um hotel aqui, talvez não tendo como valorizar muito a importância da data. Mas, apesar da modéstia da comemoração, me sinto muito feliz por estarmos casados há 20 anos, e podermos nos alegrar por isto com nossos filhos, parentes e amigos.

Num tempo em que as relações estão se tornando cada vez mais descartáveis e "funcionais", e as pessoas não sabem mais o verdadeiro sentido do amor, é bom olhar para trás e ver que esses 20 anos passaram tão rápido, e cheios de tantas alegrias.

Há pouco assistimos um filme que tinha como pano de fundo o sentimento de casais de que haviam entrado em uma rotina, se tornado "irmãos", e o casamento havia perdido a graça. Fico pensando que em 20 anos de casado a última coisa que tenho experimentado é "rotina". Talvez também pelo fato de eu ter seguido uma vida meio "aventureira", com passagens pelo Canadá, África e o desafio de se criar 3 filhos com personalidades e dons diferentes. Creio que só o fato de se ter filhos e o desafio de criá-los da melhor maneira possível já impede qualquer rotina, com todas as surpresas e desafios que a vida sempre nos traz. Mas, além de tudo isto, a relação conjugal é um universo a ser explorado por toda a vida. A cada dia estou conhecendo a Norinha e ela me conhecendo, mesmo porque a gente vai mudando com o tempo (nem sempre para melhor, é verdade hehehe).

Me inspira, além de todos os ricos ensinamentos bíblicos sobre a vida conjugal, uma musiquinha de um conjunto do fim dos anos 70 (obviamente era bem pequenininho na época hehehe), que dizia:
Sim, é como a flor
de água e ar, luz e calor
o amor precisa para viver
de emoção, e de alegria
e tem que regar todo dia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Blog terceirizado hehehe

Caros amigos e "seguidores",

Estamos de volta à bonita Lubango desde a última quarta-feira, 08/09, graças a Deus. Dessa vez ficamos pouco mais de 3 semanas para conseguir os vistos, bem menos que os 35 dias da última vez. Estamos de volta à "ralação", mas felizes com isto. É bom rever os amigos aqui e voltar ao trabalho para o qual viemos aqui, com as suas dificuldades e alegrias.

Quero indicar o blog dos amigos que estão nos visitando esses dias, Eugênio e Carol, onde há muitas fotos da vida e dos lugares aqui: www.petraconi.me .

Depois escrevo contando mais notícias.

Du

domingo, 5 de setembro de 2010

Teresa Kayuva e a saudade do SUS


Essa paciente, com esse sorriso bonito, se chama Teresa Kayuva. Ela é diabética e veio ao hospital para tratar de uma infecção na perna. Encontro com ela quase todos os dias no hospital, quando ela vem para trocar os curativos, o que para mim faz uma mistura de sentimentos. Fico alegre em ver seu sorriso bonito e resignado, diante do quadro que se arrasta já há muito tempo, reconhecendo no seu sorriso também o sentimento de gratidão por ser bem tratada lá. Por outro lado, ela mora numa vila distante, sem recursos médicos ou estrutura sanitária razoável (atualmente se encontra na vila feita perto do hospital, para hospedar aqueles que precisam prolongar o tratamento, sem precisar voltarem para suas vilas ou cidades de origem). Mesmo se conseguirmos sucesso em cicatrizar sua ferida, sua diabetes não tem sido controlada com os medicamentos orais (que já são difíceis de se comprar no país) e ela precisa de insulina. Aí, é uma realidade muito distante da paciente. Conseguir a insulina, conservar adequadamente, se possível em geladeira, que ela não tem. Não há sequer energia elétrica onde mora. O Dr. Collins, médico angolano-canadense que se especializou em cirurgia de cataratas para viajar pelo país devolvendo a vista aos que ficaram cegos em decorrência da catarata, me disse algo que me chocou: “Dar o diagnóstico de diabetes aqui é como assinar o atestado de óbito. Não há como tratar na maioria das vezes.” Os pacientes logo morrem em decorrência das muitas complicações da diabetes. Para vocês terem uma idéia, a hemodiálise só existe na capital, mesmo assim poucas máquinas de diálise que atendem a pouquíssimos pacientes. Aí a gente pensa como expressou a Norinha: “Aqui a gente fica com saudade do SUS.” É triste, mas é verdade. Nós, que conhecemos todas as dificuldades do SUS, especialmente quando se adoece sem se contar com um bom seguro saúde, constatamos aqui que o SUS ainda ofereceria infinitamente mais do que se oferece aqui. Isso, em um país que diz estar crescendo à custa dos petrodólares a uma taxa comparável com a China. Parece que os petrodólares não aparecem para melhorar as condições de vida e saúde, pelo menos como a gente esperaria ou sonharia.
Uma observação: reparem como o hospital onde trabalhamos, apesar das limitações de recursos, é limpo e bem cuidado, o que é algo raro no contexto africano.

“Aqui nem parece a África.”


Essa foi a frase do presidente Lula, ao visitar a Namíbia, uma gafe já que havia visitado outros países no continente, e visitaria outros. Mas realmente há um contraste entre a Namíbia e o resto do continente. Windhoek, que vocês podem ver nessa foto do centro da cidade, é bem limpa (considerada até a cidade mais limpa da África), e bem organizada. A gente sente a influência da África do Sul, que a dominou por muitos anos, e um pouco da herança alemã, que a colonizou até o início do século passado. Andar aqui nos lembra andar em países de primeiro mundo em vários sentidos, apesar do clima seco que incomoda bastante. O país é considerado desértico não só pelo clima, que é bastante influenciado pelo deserto do Kalahari ao sudeste, e pelo deserto do Namibe, ao noroeste, mas também por ser um país pouco populoso, com apenas cerca de 2 milhões de habitantes em todo o país, que talvez tenha o tamanho do estado do Pará, e com cerca de 300.000 habitantes em sua capital Windhoek (leia-se vínduk).