sexta-feira, 30 de julho de 2010

Triste Dia. Triste mesmo.

Aviso: Se você não quiser ficar triste não leia esta postagem.

Ontem foi um dia triste no hospital. Logo na chegada o enfermeiro me avisou que uma paciente tinha passado mal à noite. Era uma paciente com câncer de bexiga, com uma grande massa na região inferior da barriga, que tinha tido convulsões. Fui ver e a paciente estava em coma, sem condições de ir para a cirurgia que estava planejada para aquele dia e caminhando para a morte. Possivelmente resultado de complicações pelo fato do rim não estar funcionando... O triste é que os pacientes vão para o hospital depois de meses, estou falando a verdade, meses, e até anos (!!) de sangramento na urina, ou vaginal ou de tumores crescendo muitas vezes de forma bem vizível e até com desfigurações no corpo, sem procurar atendimento médico ou passando por atendimentos em serviços do governo, sem nada efetivo ser feito. Acho que é uma combinação de ignorância, estoicismo, falta de possibilidades, falta de recursos financeiros, crenças místicas; tudo isso junto possivelmente. Aí eles chegam lá no hospital com quadros extremamente avançados, sem possibilidade de tratamento ou com poucas chances de sucesso.
Falei com a família sobre a situação e eles optaram por levar a paciente para casa, para estar com seus queridos em seus últimos momentos. Acho que fizeram certo.

Pouco tempo depois fui ver uma criancinha internada há uns dois dias, de um ano e meio, pesando 6,5 kg (o peso de uma criança de uns 6 meses), que chegou com muita diarréia e desidratação. Fizemos o teste do HIV e foi positivo. Iniciamos a hidratação venosa, antibióticos e tratamento para amebas (que estavam presentes nas fezes) mas a criança não estava indo bem. Naquela manhã começou com insuficiência respiratória e não conseguimos fazer muito por ela. Em pouco tempo faleceu. Fiquei tão triste com a minha impotência e confrontado com essa pesada realidade. Tentei me consolar pensando que se ela sobrevivesse provavelmente sofreria mais ainda, com infecções causadas pela AIDS e a desnutrição, com o descaso, com a falta de recursos em todos os sentidos. Fiquei ali tentando não chorar com a mãe, que ligou para o pai da criança e brigou com ele por não ter ido nem uma vez sequer visitar a menina, que naquele momento estava morrendo. Algumas horas depois da criança ter falecido chega o pai, bêbado, brigando com o hospital por "ter matado sua filha". Talvez querendo jogar em cima de nós um pouco da culpa que estivesse quase sentindo, ou tentando não sentir. Não sei se sabia que provavelmente ele havia passado o HIV para a mãe, que por sua vez infectou a criança (tínhamos oferecido para a mãe e para o pai o teste mas estavam relutantes...). Triste demais. Tragédia demais. Desgraça demais (com o perdão da palavra).
A Cruz de Cristo nos convida para de alguma forma "entrarmos" no sofrimento do mundo, e se não pudermos ser instrumentos de cura pelo menos podemos ser instrumentos de consolo, de paz, de amor.
Continuemos a orar pela África com os seus sofrimentos, pedindo que essa situação mude, e talvez a gente possa também ser instrumento de mudança, ou pelo menos de benção nesse lugar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Colheita feliz


A Norinha estava super feliz hoje. Diante da dificuldade de se conseguir verduras e frutas aqui (hortifrutis aqui são caros e muitas vezes de qualidade ruim, às vezes trazidos da África do Sul, mesmo sendo o país de bom clima e solo... marcas da guerra... outras coisas também...) plantamos uma hortinha, e hoje colhemos bastante cenoura e alface, de boa qualidade e bem fresquinhos. Uma boa vantagem de se morar em casa com uma boa área em volta, coisa que o apartamento em BH não nos possibilitava. Benção dos céus, que faz a semente brotar, crescer e frutificar.
Na foto a Rachel está ao lado da Perpétua, nossa ajudante em casa, e as filhas do casal nosso vizinho (um português e uma alemã que trabalham aqui na área da educação), Mara e Timna, que "ajudaram" na colheita.

Amiga de Rottweiler?


Até eu fiz carinho nesse "cachorrinho". Seu nome é Bogo. Vocês já ouviram falar em lobo em pele de cordeiro. Pois é, esse é um vira lata em pele de Rottweiler. Uma doçura de cachorro. Aí está a Norinha, assistindo a "pelada" que fizemos na fazenda Tchincombe, ao lado do "bichano".

sábado, 17 de julho de 2010

Tchincombe




No fim de semana passado fomos a um retiro da missão da qual fazemos parte, a SIM. Foi numa fazenda, chamada Tchincombe, onde o irmão do Dr. Steve Foster, Stirling, mora com sua família, cerca de 200 km a sudeste de Lubango. Eles têm um projeto de desenvolvimento agropecuário lá, além de liderarem uma pequena igreja na comunidade local. Foram preletores o pastor de uma igreja em Toronto, no Canadá, chamado Charles Price, juntamente com sua esposa, Hilary. Tivemos um bom tempo lá. O local também é bonito, com um vegetação do tipo savana, apesar de muita areia, que é tipo uma extensão do deserto do Kalahari, que pega a Zâmbia e uma parte de Angola. Por ser um clima que tem um pouco do deserto, as temperaturas de madrugava beiravam o zero grau C e perto do meio dia subiam a cerca de 30 graus C, fazendo uma amplitude térmica enorme. Os meninos se divertiram bastante, além de terem tido estudos bíblicos para os adolescentes.
Aí estão algumas fotos do retiro, onde estiveram presentes cerca de 60 pessoas, a maioria missionários, da SIM e de outras missões. Foi um bom tempo de reflexão e renovação espiritual.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sobre a pregação no meio do mato (postagem anterior)


A postagem anterior fala de termos ido fazer uma pregação no meio do mato no último domingo. Eu mesmo que postei aquele texto mas tinha usado os famosos botões ctrl+c e ctrl+v a partir de uma mensagem que a Norinha tinha escrito para sua irmã Débora. Depois que postei fiquei pensando que o texto, como foi escrito no meio de um e-mail, falava mais das curiosidades do que aconteceu, e não expressava a riqueza de termos ido ali.

Fiquei pensando em como o local, com bancos que eram apenas galhos de árvores sobre pequenos tocos, debaixo de umas árvores, de alguma forma mostravam a simplicidade do que é ser igreja, sem sofisticações, aparelhos, ou tecnologia. As pessoas vinham chegando como que de lugar nenhum, no meio dos arbustos, e logo estávamos ali umas 50 ou mais pessoas, a maioria crianças, talvez a maioria sem bilhete de identidade ou até certidão de nascimento, desconhecidos do mundo, mas que ali se tornavam povo de Deus, com rosto, nome, valor. Aquela sombra à beira da estradinha se tornava um santuário, lugar santo, onde a gente podia cultuar a Deus e ouvir sua palavra. Fui traduzido para a língua local e contei para eles a história do filho pródigo que Jesus contou. Apesar das barreiras da língua e da cultura, acredito eles puderam entender aquela que é a história de todos nós, e do amor de Deus por nós, seja na Galiléia ano 30, no Brasil do século 21, ou no meio do mato no interior da África.

Fico ainda devendo as fotos mas ainda vou consegui-las.